Será possível que o futebol volte a ser um programa de família?

24-01-2013 00:00

 

Se por um lado o número de mulheres presente nos estádios está a aumentar, por outro o número de crianças tem vindo a diminuir. É caso para perguntar: mas as mães agora vão ao futebol e deixam os filhos em casa? Sim, na sua maioria, é verdade. Mas não é só uma maior presença das mães no estádio que justifica este crescimento feminino. Também existem cada vez mais mulheres adolescentes a apoiar o seu clube.

Mas será que os clubes estão a aproveitar esta tendência de “emancipação” da mulher para atrair mais famílias ao seu estádio? Não. A maioria, não.

Antes de pensarem em tomar qualquer medida será conveniente perceber as razões que estão a levar a este afastamento. Sabendo que as crianças não têm autonomia nem poder de decisão para irem assistir aos jogos sozinhas deve ser com os “encarregados de educação” com quem se deve comunicar. Assim, se questionarmos os pais sobre este assunto rapidamente percebemos que a principal razão prende-se com o nível de (in)segurança nos estádio. Muitos irão mais longe e dirão que enquanto existirem claques não poderão levar as crianças consigo.

Quanto a este tema eu defendo que há espaço para todos. Sim, há espaço para claques, crianças, famílias, mulheres, pessoas com problemas de mobilidade, entre outros.

Eu vou mais longe. Acredito mesmo que as claques são figura importante do espetáculo. São fundamentais no apoio à equipa, mas também para melhorar a experiência  que se tem ao assistir a um jogo de futebol.  São também os adeptos mais fiéis.  Aqueles que estão em todo o lado faça sol ou chuva. No entanto, eu não compactuo com o tipo de claques que existem hoje em dia. Não defendo as claques que deixaram de ter como objetivo central apoiar o clube para darem prioridade a negócios ilícitos e ilegais, escondidos atrás de marcas com anos de história. Ao invés, apoio todo o tipo de claques que têm como único objetivo apoiar o clube que os une.

Para inverter esta situação os clubes têm de dizer BASTA. Quem está mandatado para dirigir deverá também ter como seu principal objetivo defender os interesses do clube. Neste caso, cabe aos clubes reverem o apoio que dão a este tipo de movimentos e criar um regulamento interno. Caso seja cumprido há apoio; caso contrário, não. 

Mas também não nos podemos justificar apenas com as claques. É possível adoptar outras estratégias capazes de alterar esta queda do número de famílias no estádio.

Se eu perguntasse agora:  qual o país caraterizado por ter um grande número de hooligans? Certamente que muitos responderiam o Reino Unido. Eu também.

Então e seu disser que clubes ingleses como, por exemplo, o Manchester City já criaram um produto exclusivo - Family Stand - para crianças com o objetivo de levar as famílias de volta ao estádio? (quando ainda estava no Sporting lancei esta ideia, mas a minha voz ainda soava baixo...)

O Family Stand, como é denominado em Manchester, é um setor da bancada com capacidade para 8.000 pessoas e para onde os adultos apenas podem comprar bilhetes se estiverem acompanhados por menores de 16 anos. No caso do Tottenham, outro clube britânico, está mesmo escrito, na parta de trás das cadeiras, a seguinte frase: “Mind your language”.

Ter uma área deste género ajuda a restringir palavrões e permite que os pais (ou avós!) se sintam mais seguros a levar as crianças ao templo. 

Se pensarmos em termos estratégicos de marketing esta bancada acaba por atrair um maior número de marcas que têm como público-alvo o segmento júnior. Neste sentido, estas bancadas passam a contemplar produtos e serviços direcionados para crianças e adultos.

Se quisermos ir ainda mais longe, podemos concluir que o clube tem aqui uma excelente oportunidade de segmentar a comunicação para os seus fãs de amanhã. Serão estes os seus futuros consumidores. Serão estes que mais tarde irão passar este “testemunho” aos seus filhos.

Se em Inglaterra conseguiram, nós não conseguimos? Ou não temos interesse?
Queremos as famílias de volta ao futebol!

Até amanhã!

P.S: De notar que neste artigo não considerei a variável 'qualidade do futebol praticado'. Obviamente que este é um fator que também influencia o nível de assistências médio num estádio. Porém, este não é identificado pelos fãs como a razão para deixarem os filhos a ver o jogo no sofá.